Novo ano letivo terá 170 mil alunos em 74 países a aprenderem a língua portuguesa
Para o novo ano letivo, o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua projeta uma Rede de Ensino Português no Estrangeiro presente em 74 países com 320 professores, 170 mil alunos, 51 leitores, 57 cátedras.
“Num mundo em crise”, provocada pela pandemia de Covid-19, a língua portuguesa “consolidou-se e cresceu apesar das condições adversas”, sublinhou o presidente do Camões I.P. A entrada em funcionamento da primeira escola oficial bilingue (inglês-português) no Reino Unido, a previsão da integração do português no ensino secundário oficial da Irlanda e da Escócia e o aumento, no ensino universitário, de cátedras, Centros de Língua Portuguesa e programas de bolsas, foram novidades destacadas por Luís Faro Ramos.
A Rede de Ensino Português no Estrangeiro (EPE) para 2020-2021 foi apresentada no final de setembro pelo presidente do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua. Luís Faro Ramos divulgou as projeções salientando que “num mundo em crise”, provocada pela pandemia de Covid-19, a língua portuguesa “consolidou-se e cresceu, apesar das condições adversas”. Para o novo ano letivo, o Camões, I.P. projeta uma rede EPE presente em 74 países com 320 professores, 170 mil alunos – dos quais 70 mil no pré-escolar, básico e secundário, 84 centros de língua portuguesa, 51 leitores, 57 cátedras e 174 bolsas de estudo.
Sobre o número de estudantes, Faro Ramos sublinhou que se referem à rede que o Instituto controla, nas formas direta e apoiada, havendo sempre a estimativa de um número superior, “de mais de 200 mil estudantes neste momento pelo mundo a aprenderem português”.
Recorde-se que a rede EPE oficial está presente em 11 países (Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Luxemburgo, Países Baixos, Reino Unido, Suíça, África do Sul, Namíbia e Zimbabué). Estende-se ainda à Austrália, Canadá, Estados Unidos e Venezuela (em forma de rede apoiada), onde o ensino é assegurado por docentes locais, com o apoio material e pedagógico das Coordenações de Ensino do Camões, I.P.
Faro Ramos salientou esse apoio “que o Camões tem estado a prestar a associações e escolas comunitárias, que não estando na rede direta de docentes, ensinam a língua portuguesa”. “Trata-se de um aspeto muito relevante da nossa ação que ganha maior importância numa altura em que várias associações se debatem com sérios problemas para não deixarem de proporcionar o ensino da nossa língua”, defendeu.
Escola bilingue abriu portas
O novo ano letivo traz um reforço num número de professores, para um total de 320 docentes: são mais dois para França, onde foram criados de dois horários adicionais, e mais um para o Reino Unido, a pensar na recém-criada escola bilingue aberta em setembro na capital inglesa.
A Escola Anglo-Portuguesa de Londres (Anglo-Portuguese School of London) foi mesmo apresentada como “o grande destaque a nível do ensino pré-escolar, básico e secundário” para este ano letivo, por ser a primeira escola bilingue (inglês-português) aberta no Reino Unido. “Pela primeira vez, estamos presentes ao nível pré-escolar numa escola oficial inglesa. E esta oferta vai chegar, daqui a alguns anos, até ao ensino secundário: começa no pré-primário e as crianças vão progredindo na sua escolaridade, vão entrando outras e o objetivo é que esta primeira escola bilingue possa chegar ao ensino secundário”, avançou o responsável.
Na apresentação da nova rede EPE, e numa altura em que ainda havia países com inscrições em aberto, o Camões, I.P. projetava um total de 70 mil alunos (do pré-escolar ao secundário) para 2020-2021, acima dos 67.592 registados no ano letivo anterior. O número de cursos deverá passar dos 3.938 em 2019-2020 para 4.100. Dados que para o presidente do Camões, I.P. “mostram como o cenário catastrófico e pessimista que se chegou a apontar, não se vai concretizar”.
No final da apresentação, e em declarações aos jornalistas, também o ministro dos Negócios Estrangeiros destacava a “expectativa de que aumente o número de alunos (em relação a 2019-2020)”. “Já conhecemos as inscrições no ensino integrado e, ao contrário do que tinha sido o nosso receio de baixa por causa da pandemia, neste momento, e não estando ainda fechado o período de inscrições, estas são praticamente o mesmo volume das atingidas em 2019-2020. O que quer dizer que vão aumentar, já que o período de inscrições, insisto, não está fechado”, explicou na altura.
Outra novidade prende-se com o número de países que integram a língua portuguesa no seu currículo oficial do ensino secundário, e que se cifram atualmente em 33: a estes poderão juntar-se este ano a Escócia e República da Irlanda. Luís Faro Ramos adiantou que o processo de negociações com as autoridades da República da Irlanda “está mais avançado e mesmo com indicação de que teremos já neste ano letivo o português no ensino secundário público”. Quanto à Escócia, assegurou que as negociações “estão bem encaminhadas”.
Outros números apresentados por Faro Ramos referem-se ao número de manuais escolares distribuídos – que deverão passar dos 22.254 em 2019 para 28.994 este ano – e aos exames de certificação EPE, que o Camões, I.P. projeta crescerem dos 3.954 de 2019 para 4.000 neste novo ano letivo. Um número que está ainda a depender das condições impostas pela pandemia de Covid-19, já que em muitos países os exames ainda não tiveram lugar.
Deverão crescer igualmente o número de atividades (1.110) e de alunos no âmbito do Plano de Incentivo à Leitura – 60 mil neste novo ano letivo, quando foram 57.617 no anterior.
O investimento do Camões, I.P. na rede de ensino de português no pré-primário, básico e secundário no estrangeiro representou em 2019-2020, cerca de 22.487 milhões de euros. Para o novo ano letivo, a projeção do Instituto é de 22.662 milhões de euros.
Mais cátedras e protocolos de cooperação
A rede EPE para 2020-2021, tem ainda uma presença considerável ao nível do ensino superior, em universidades estrangeiras e organismos internacionais. É neste âmbito assegurado o ensino da língua e cultura portuguesa a mais de 100 mil estudantes.
No novo ano letivo mantém-se o mesmo número de leitores, são 51, mas está projetada a substituição do leitorado no Huambo pelo novo leitorado em Luanda (Angola). O Camões, I.P. prevê um crescimento no número de investigadores e docentes – de 802 para 852 – ao abrigo de protocolos de cooperação assinados com universidades, que deverão subir dos 299 atuais para 355, com destaque para os “já em negociação avançada” com instituições de ensino superior da Grécia (Universidade de Atenas), Egito (Universidade Al-Alzahar), Roménia (Universidade Alexandru Ioan Cuza) e Senegal (Universidade Cheik Anta Diop). O investimento em leitorados em 2020 representa quase três milhões de euros, enquanto a dinamização de protocolos com universidades estrangeiras saldou-se até setembro em pouco mais de 2,2 milhões de euros.
Deverá crescer também o número de cátedras, com o Instituto português a negociar seis novas, num “processo bastante adiantado”, como referiu Faro Ramos, que destacou as futuras cátedras Lídia Jorge em Genebra (Suíça), Vieira da Silva (Paris 4, em parceria com a Fundação Arpad Szenes) e Mário Soares (em Rennes, França). Estão ainda em negociação cátedras em Lima (Peru), Paris 1-Pantheon Sorbonne (França) e em Sergipe (Brasil).
O Camões prevê também um aumento do número de Centros de Língua Portuguesa, de 82 para 84, e está a negociar a abertura dessas estruturas na Universidade de Nairobi (Quénia), na University College Dublin (República da Irlanda), na Universidade Eduardo Mondlane em Maputo (Moçambique) e na Universidade de Shams no Cairo (Egito).
Outro crescimento no âmbito do ensino superior relaciona-se com a atribuição de bolsas de estudo: no ano letivo de 2019-2020 foram 153 e este ano deverão chegar às 174, com destaque para a renovação das bolsas Santander (dinamizadas ao abrigo do protocolo Empresa Promotora da Língua Portuguesa), do programa Consórcio Universidades Portuguesas Cursos de Verão Online e do programa Universidade do Porto-Curso de formação de professores.
O investimento do Camões, I.P. em cátedras representa este ano 536 mil euros, a que se juntam 761 mil euros investidos em bolsas de estudo e 240 mil em Centros de Língua Portuguesa. “Tudo isto, como investimento, pouco ultrapassa o milhão e meio de euros. Por isso, veja-se o que se consegue fazer com pouco mais de um milhão e meio de euros”, salientou Faro Ramos.
No âmbito do ensino em formato digital, o Instituto passará a oferecer o curso de Português Língua Estrangeira com conteúdo específico para médicos, para além de cursos de verão em parceria com universidades portuguesas, um curso de competências digitais voltado para professores e vários cursos no setor da cultura, como Teatro, Estudos pós-coloniais e Gestão cultural, entre outros. A certificação em formato online está presente no ‘Camões Júnior’ (certifica conhecimentos de Português Língua Estrangeira juvenil) a que se juntou este ano a Prova de Comunicação Médica (em parceria com a Ordem dos Médicos) e se juntará o Teste de posicionamento (parceria com a FLUL e a NOVA FCSH). |
Projetos de ensino online
Ainda acerca dos investimentos, o presidente do Camões, I.P. referiu o programa Empresa Promotora da Língua Portuguesa (EPLP). Lançado em 2017, permite às empresas contribuírem financeiramente para a promoção da língua portuguesa no estrangeiro, através da oferta de bolsas de estudos ou do apoio a atividade de cátedras e leitorados em instituições de ensino superior.
Esse apoio financeiro a ações do Camões, I.P. tem variado anualmente entre os 200 e os 300 mil euros e gerou já uma parceria com uma dezena de empresas (Santander, Fundação Millennium BCP, DST Group, SJM Holdings, JM Concreting, Jerónimo Martins, Sonae, RTP, Porto Editora e Lidel). Segundo Faro Ramos, há negociações em curso, “designadamente no continente sul americano”, para alargar a parceria a novas empresas.
No âmbito do ensino em formato digital, o Instituto passará a oferecer o curso de Português Língua Estrangeira com conteúdo específico para médicos, para além de cursos de verão em parceria com universidades portuguesas, um curso de competências digitais voltado para professores e vários cursos no setor da cultura, como Teatro, Estudos pós-coloniais e Gestão cultural, entre outros.
A certificação em formato online está presente no ‘Camões Júnior’ (certifica conhecimentos de Português Língua Estrangeira juvenil) a que se juntou este ano a Prova de Comunicação Médica (em parceria com a Ordem dos Médicos) e se juntará o Teste de posicionamento (parceria com a FLUL e a NOVA FCSH).
O Instituto dinamiza ainda as plataformas digitais ‘Ler em Rede’, que promove competência de leitura, e ‘Português Mais Perto’, ferramenta de apoio a crianças e jovens que frequentavam a escola em Portugal e se deslocam para o estrangeiro, a acompanhar as famílias.
A fechar a apresentação, Faro Ramos destacou a aposta do ensino na área digital no atual contexto de pandemia, para apresentar o vídeo ‘Aprender Português em segurança’, com testemunhos de coordenadores do EPE em vários países. “Houve fronteiras fechadas, há limitações de viagens e de deslocações de pessoas, mas as línguas não se confinam e a língua portuguesa não ficou confinada”, sublinhou.
Preparados para todas as forma de ensino
A sessão de apresentação teve ainda as intervenções do ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, e do titular da pasta dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
O ministro da Educação referiu que num período de “confinamento forçado”, em que “seria mais fácil acantonarmo-nos”, houve uma estreita coordenação entre os dois ministérios e o Camões, I.P. para reforçarem as redes e o ensino online e trabalharem o EPE sempre com a preocupação de articular quem financia com quem o pensa todos os dias.
“É muito importante termos esta rede de ensino juntamente com as escolas internacionais para entendermos claramente quem somos e onde estamos globalmente, mas também para entendermos quem fomos e onde estivemos e para projetarmos, a cada dia, quem seremos e onde estaremos”, vaticinou.
Augusto Santos Silva começou por referir que as atividades letivas dos cursos de Português no estrangeiro já se iniciaram e de forma presencial para assegurar que o MNE e o Camões, I.P. têm “os instrumentos indispensáveis para garantir o ensino presencial sempre que for possível e para garantir formas complementares ou substitutivas sempre que as circunstâncias da evolução da pandemia o exigirem localmente”. “À data em que falamos, todas as atividades coletivas da rede de ensino português no estrangeiro retomaram a sua modalidade presencial, mas todas as Coordenações de Ensino e todos os professores afetos ao EPE conhecem os planos de contingência, adaptados a cada país e a cada circunstância, que devem seguir sempre que se depararem com consequências localizadas da evolução da pandemia”, assegurou o ministro.
O governante agradeceu ainda a “todos quantos fizeram com que o ano letivo anterior decorresse nas melhores circunstâncias possíveis no âmbito da pandemia, para que as atividades tivessem acontecido e o ano letivo tivesse sido concluído”, sem esquecer os que estão preparados ou a trabalhar nestas novas condições, “mas assegurando sempre que possível o ensino presencial”. O ministro evidenciou ainda a consolidação e o desenvolvimento do EPE, cuja rede disse estar a fortalecer-se ao nível do ensino direcionado aos filhos dos portugueses no estrangeiro, em 15 diferentes países, e a desenvolver-se a cada ano com a abertura de novas oportunidades e alargamento da geografia onde o ensino português marca presença.
“É muito importante termos esta rede de ensino juntamente com as escolas internacionais para entendermos claramente quem somos e onde estamos globalmente, mas também para entendermos quem fomos e onde estivemos e para projetarmos, a cada dia, quem seremos e onde estaremos”, vaticinou o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues |
Augusto Santos Silva salientou igualmente como “grande novidade” a abertura da escola anglo-portuguesa em Londres e deixou uma palavra de agradecimento aos intervenientes, desde os serviços centrais do Instituto à Embaixada de Portugal em Londres e às autoridades britânicas e particularmente à Coordenadora do EPE no Reino Unido, Regina Duarte. Destacou ainda outras “novidades” do novo ano letivo, como o reforço do ensino no básico e secundário, tanto integrado nos sistemas de ensino, como no paralelo e no complementar.
Referiu o reforço do ensino nos quatro países da rede apoiada, o aumento do raio de ação do português ensinado como língua estrangeira e a expansão no nível superior, com mais cátedras, centros de língua portuguesa, departamentos de estudos portugueses e lusófonos e novos protocolos.
“É neste espírito, envolvidos nas atividades presenciais, preparados para qualquer estratégia de contingência que seja necessário ativar e com o esforço de diferentes ministérios para consolidar e desenvolver o ensino português no estrangeiro, que estamos todos abrangidos”, concluiu.
Ana Grácio Pinto