A entrevista de Manuel Luís Goucha a Tony Carreira foi para o ar esta segunda-feira, na TVI.
A entrevista de Manuel Luís Goucha a Tony Carreira foi para o ar esta segunda-feira, dia 17 de maio, depois do “Jornal das 8”, na TVI. Na sua conta no Instagram, o apresentador frisou que foi “a conversa mais dura e difícil” da sua vida. “Uma conversa de olhos molhados, silêncios que doem e muito, muito amor”, revelou nas redes sociais.
“Querido Tony, obrigado”, agradeceu Manuel Luís Goucha no arranque da conversa. “Obrigado eu, obrigado eu (…) “Foste muito especial nisto, por isso estou aqui contigo”, frisou o artista.
“A vida tem sentido depois da perda de uma filha?”, questionou o apresentador da TVI. “Não, claramente não. Estou a tentar encontrar um sentido. Mas é muito complicado responder a essa pergunta. Tenho mais dois filhos e eles percebem que é a dor que está a falar quanto tenho um discurso como este”, confessou, acrescentando que está “à espera de respostas”.
“Quando a minha filha partiu foi de uma violência extrema. Morri por dentro e ainda estou a tentar encontrar alguma vida cá dentro”, frisou, confessando que parecia “um zombie”. “Revoltei-me contra o mundo inteiro (…) Estou à procura, através da fé, de algumas respostas”, frisou.
“Agarro-me à esperança que exista [via após a morte]”, admitiu. “Tenho duas certezas: nunca mais vou ver a minha filha cá e nunca mais serei o mesmo (…) O que me pode ajudar é agarrar-me à associação da minha filha e acreditar que o meu caminho por cá não seja assim tão longo (…) Gostava que não fosse longo”, confessou.
O apresentador quis então falar sobre a ligação à ex-mulher, Fernanda Antunes. “A ida da Sara uniu-nos neste sentido. Já eramos muito unidos, sempre fizemos questão, na separação. Ainda hoje somos uma família, sempre fomos uma família.” E acrescentou: “Não há dia em que não almoçamos ou jantamos. É muito importante para nós estarmos juntos, os quatro. Se sinto que a Fernanda não está bem, eu tenho que a ajudar. Se eu não estiver bem ela tem de me ajudar. Eternamente amigos até à morte, podem escrever o que quiserem.”, rematou.
Recordando o dia da morte da filha, disse: “Não há dor pior do que perder um filho para quem é pai como eu sou.” O único sitio onde se sente em paz é na musica. “Só consigo escrever canções para a minha filha”, revelou sobre um disco que está a gravar e que está quase terminado. “Apetece-me cantar para ela. a musica tem uma magia especial”.
Já sobre os espetáculos, diz que perspetivou um regresso ao palco com o público, mas que não seria possível neste momento de pandemia. No entanto, já marcou 25 concertos em França e pelo menos 40 em Portugal para 2022.
A revolta com o Ministério Público
A conversa foi ainda aproveitada pelo artista para comentar o tempo que o Ministério Público está a demorar a tirar conclusões sobre a noite do acidente, que só deverão chegar no final de agosto. Uma demora que chamou de “desumana”. Na noite em que Sara Carreira morreu, era Ivo Lucas, o seu namorado à época, que conduzia o automóvel.
“Eu não sou amigo do Ivo, mas sei que sempre tratou muito bem a minha filha. Teve a fatalidade de ir ao volante daquele carro, mas podia ter sido eu a ir ao volante”, comentou Tony Carreira, que também garante que a relação que têm é “muito bonita”. Não sabe quais serão as conclusões do inquérito, mas já garantiu ao ator que não o vai condenar. “A minha filha amava-o e, se me está a ver, não vai querer que eu seja inimigo do Ivo.”
A dor, no entanto, não acaba. “Eu tento o dia todo andar ocupado, mas depois lá vem a noite. A noite é terrível, mas pior ainda é o acordar. O acordar é acordar na minha casa, porque já pouco saio daqui, e acordar sem saber onde estou, que dia é. Um vazio total. Adormecer é adormecer a chorar agarrado a uma almofada. Acordar é um vazio total.”
Durante toda a conversa, uma mesa ao centro da sala manteve pousada uma bola de neve. “Não havia cidade ou aldeia” por onde passasse, disse Tony, onde não comprasse uma bola daquelas para a filha. Foram mais de 200 que estão agora espalhadas entre a várias casas e o escritório, onde se vai instalar a associação. “No fim a Sara já me dizia ‘Oh pai, não me tragas mais bolas de neve’, mas eu continuava a trazer sempre.”
O Tony Carreira de hoje é outro homem. Magoado, para lá de magoado, muito para lá de magoado. Com uma ferida sem cura. Como num dos concertos em que enchia estádios de futebol, arenas com dezenas de milhares de pessoas, a entrevista terminou com um agradecimento ao seu público: “Obrigado do coração a todos, todos, todos os portugueses”.
“A vida tem sentido depois da perda de uma filha?”, questiona Manuel Luís Goucha. “Não, claramente que não, e eu estou a tentar encontrar um sentido… mas… é muito complicado responder a essa pergunta, porque é evidente que tenho mais dois filhos… E Eles percebem porque sabem que é a dor que está a falar. Mas tenho mais dois rapazes e tenho de me agarrar a eles”, responde Tony Carreira.
“E tens te a ti…“, diz Goucha. “Eu já não conto. Já deixei de pensar em mim, mas espero através da associação da minha filha encontrar um sentido. Estou à espera de respostas, de perceber o porquê de a vida ser tão injusta“, desabafa o cantor.
“Quando a minha filha partiu, foi de uma violência extrema… morri por dentro, ainda estou a tentar encontrar alguma vida cá dentro e não tenho problema em dizer que bebi mais do que devia, andei ali uns tempos… Eu parecia um zombie… depois veio alguma violência, fui injusto com pessoas que não mereciam, fui agressivo com o mundo inteiro. Revoltei-me contra o mundo inteiro, neste momento estou à procura de, através de alguma fé, a fé que me resta, encontrar algumas respostas”, confessa Tony Carreira.
“Neste momento estou à procura de alguma fé que me resta… e eu que não acreditava na vida depois da morte, hoje tento-me a agarrar nessa esperança”, diz.
Tony sofre com a dor, as saudades e a falta que a filha lhe faz.
“Como é que foste abraçando as emoções?”, pergunta o apresentador.
“A revolta acho que já foi, porque não me leva a lado nenhum, não vai mudar nada. Há duas certezas que eu tenho. Uma delas é que não volto a ver mais a minha filha. A outra é que nunca mais serei o mesmo”, disse o artista.
“A única coisa que me pode realmente ajudar-me é agarrar-me à associação da minha filha – Associação Sara Carreira -, fazer o bem e acreditar que o caminho que me resta cá não será assim tão longo”, diz, confessando que gostava de morrer cedo.
Quanto à permanência no Mundo, Tony Carreira afirma: “Gostava que não fosse longo (…) nunca tive nenhuma vontade de ser assim um idoso (…) nunca tive essa cena de festejar os meus 100 anos (…) se lá chegar será um grande castigo”
“Gostava que se fosse possível ir para o outro lado já não muito idoso”, acrescenta ainda e refere: “Se eu acreditava em Deus, por tudo o que acontecer perante a minha vida de 57 anos, os 10 primeiros andamos às cegas, mas os restantes vivi bem… tenho muitas dúvidas, mas hoje não quero questionar”
Manuel Luís Goucha quis saber o que mais faz falta da Sara. “Tudo, a Sara era luz, era alegria, era… [silêncio] a minha princesa, nunca vi a Sara a falar mal de ninguém, a não querer ajudar alguém. A Sara foi muito o equilibro da minha separação por exemplo. A Sara era um ser especial e quem a conheceu sabe disso”, diz ainda o cantor.
Durante a conversa com Manuel Luís Goucha, o cantor falou ainda sobre as desilusões que teve ao longo do luto, com alguns amigos que não estiveram a seu lado, como gostaria.
“Nestes meses, há pessoas de quem eu esperava muito e não tive nada e o contrário também aconteceu. Mas quero estar em paz com o mundo inteiro […] Tive surpresas de quem eu nada esperava. Há pessoas que eu considero que já falharam comigo, mas eu certamente já falhei com outros, porque ninguém é perfeito”.
Tony Carreira esclarece entrada de Sara Carreira em novela da TVI
Durante a conversa, Tony Carreira revelou o que realmente aconteceu nos bastidores sobre a entrada de Sara Carreira numa novela da TVI.
“Nunca liguei a ninguém para que a minha filha entrasse numa novela. Fui convidado, em tempos, muito antes de sequer saber que a Cristina Ferreira viria para a TVI, fui convidado para entrar como investidor no grupo que entraria como investidor no Grupo Media Capital. Foi aí que eu fiquei a saber que a minha filha queria entrar numa novela”, começou por dizer Tony Carreira.
O artista disse que Sara Carreira ligou-lhe para saber se era verdade que o pai seria investidor na TVI e que por essa razão ficou preocupada com a seleção da novela. “E a Sara me ligou e perguntou: ‘É verdade que vais entrar como investidor? É porque eu estou a tentar entrar numa novela da TVI e se eu conseguir entrar, ninguém vai acreditar que eu estou a entrar pelo meu mérito. Porque vão achar que foi uma cunha tua.’”, revela Tony. “Eu não sabia que ela ia entrar numa novela”, garante.
Tony Carreira conta ainda que a filha estava envolvida em muitos projetos e que não revelava-lhe todos os trabalhos que escolheu. “A Sara, como quando entrou no concurso da Máscara, ela nunca me disse. Eu só soube que ela estava lá porque um dia eu estava a ver um programa porque já ouvia dizer no escritório que se calhar era ela… E ela não se abria com ninguém. Eu só tive a certeza que era ela quando estava a ver o programa e vejo a minha filha aos saltos. Isto é a minha filha!”
A filha deixou duas canções prontas e em breve haverá novidades: “Deixou uma canção que vamos editar agora, que certeza que era a sua vontade”.
Esclarece relação com Fernanda Antunes
Um dos outros temas abordados foi a reaproximação da ex-mulher e mãe dos três filhos, Fernanda Antunes. Os dois foram casados por mais de 30 anos, mas divorciaram-se em 2019, 5 anos depois de anunciarem a separação.
“A Sara foi muito o equilíbrio da minha separação”, disse Tony Carreira, que contou que a morte da filha acabou por reaproximar os dois. “Já éramos muito unidos”, disse. “Ainda hoje somos uma família, eternamente uma família. A ida da Sara, o que fez acontecer em nós foi que era muito importante estarmos juntos.”
Tony Carreira afirmou ainda que o seu coração está ocupado, confirmando que continua a manter uma relação com a namorada, Ângela Rocha.
Relação com Ivo Lucas, o namorado de Sara Carreira
Cinco meses depois da morte da filha, que perdeu a vida num trágico acidente de viação a 5 de dezembro de 2020, Tony Carreira lamentou que ainda não haja nenhumas conclusões. “Aproveito para lamentar, ao fim de 5 meses, ainda não há conclusões de nada”, disse o cantor, que continua a aguardar o resultado das investigações, previsto para agosto deste ano. “Acho isso no limite do desumano. A GNR de Santarém não concluiu nada, o covid serve para se desculpar tudo”, atirou o cantor, mostrando-se descontente com a situação.
Nessa altura, Manuel Luís Goucha perguntou a Tony Carreira sobre a sua relação com Ivo Lucas, o namorado de Sara Carreira, que era quem conduzia o carro no momento do acidente. “A minha relação com o Ivo é muito bonita. Com toda a nossa família. E continua a sê-lo. Eu não sou amigo do Ivo. Mas o que é que eu sei do Ivo. O Ivo sempre tratou muito bem a minha filha. Teve a fatalidade de ir ao volante daquele carro. Mas podia ter sido eu.”, realça.
Foi então que Tony se lembrou que o Ministério Público abriu uma investigação para apurar responsabilidades do acidente. “Sei que há um inquérito. Não faço ideia que conclusão é que vão dar aquilo, porque eu não estava lá. Só se vier de lá uma coisa horrível, e aí sim. Eu já disse isso ao Ivo. Eu não vou condenar, não vou julgar.”
O cantor disse que a sua família tem dado apoio a Ivo Lucas, seja presencialmente todas as semanas, ou por telefone.
Tony Carreira referiu que, pela memória da filha, pretende manter a boa relação com o ator, que é atualmente um dos protagonistas da novela da SIC, ‘Amor Amor’. “A minha filha amava-o. Se a minha filha está a ver, ela não vai querer que eu seja inimigo do Ivo. Sei que um dia o Ivo vai refazer a vida dele com outra mulher. Se me vai doer, certamente que sim, tenho que ser honesto. Mas eu acho que ele deve refazer a vida dele.” De seguida, Tony Carreira disse: “Foi o único namorado que ela teve nesses anos todos, que eu senti que ela tinha amor.”
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